As mulheres quaram suas roupas
Óleo sobre tela
Até a primeira metade dos anos 1970, não havia abastecimento de água para uso doméstico em Búzios. Toda água disponível era conseguida nos poços artesianos comunitários, espalhados por diversos pontos do povoado. Havia mais de uma dezena desses poços, construídos em sistema de mutirão — em alguns casos— com material de construção fornecido por morador mais abastado.
Nessa pintura, procuro retratar o cotidiano das mulheres buzianas dos anos 1950, que se deslocavam de suas casas com seus filhos e se reuniam em torno dos poços para lavarem suas roupas. Levavam o tempo necessário para concluírem a tarefa – normalmente um dia inteiro – e nesse interim, as mulheres conversavam sobre a vida, as dificuldades e os raros acontecimentos da comunidade.
As roupas lavadas eram estendidas sobre as pitangueiras, abundantes em Búzios, enquanto quaravam ao sol. Quarar a roupa significa torná-la tão branca quanto possível, isso era feito com uso do corante “anil”. Quando terminavam o serviço, as mulheres voltavam para suas casas, cada uma com sua parte de água para uso doméstico, transportada em latas de banhas de porco, adaptadas para servirem como balde. Os maridos ou os filhos mais velhos transportavam a água em barris de vinho, trazidos do Rio de Janeiro: eram rolados e puxados com arcos de vergalhão.