Obra representativa da arquitetura franciscana, século XVII, cujo programa arquitetônico obedece aos princípios fundamentais da Ordem Franciscana: a fraternidade (pelos ensinamentos da catequese e do ensino de primeiras letras) e a menoridade (renuncia dos bens materiais). O conjunto franciscano teve inicio com o lançamento da pedra basilar, em 2 de agosto de 1684, e foi concluído em 13 de janeiro de 1696, quando Frei Cristóvão da Madre de Deus Luz inaugura com benção a igreja, o cemitério (chão destinado as sepulturas na igreja), Via Sacra e Capítulo. A partir de 1707, funciona também como Casa do Noviciado sendo ministradas aulas de “primeiras letras” (ler, escrever e contar) às crianças do local e aulas de gramática para os coristas. Seu último guardião morre em 1872 e o Convento passa a ser zelado por síndicos até 1906, quando é considerado “res nillius” e fechado.
Compõe o conjunto a Igreja de N. Sr.ª dos Anjos, os remanescentes do Convento franciscano, a Capela dos Terceiros, e o claustro e cemitério respectivos. À direita da igreja, restaram do convento apenas as paredes de contorno, as fundações e um arco interno do convento. Apresenta linhas arquitetônicas simplificadas em relação às demais construções da Ordem. A fachada da Igreja com apenas um pórtico de entrada e três janelas na altura do coro, tem seu coroamento constituído por frontão triangular terminado em volutas, elemento de feição barroca. A torre sineira eleva-se junto a linha da fachada, diferenciando-a das demais, que adotavam torres recuadas.
O interior da igreja segue o risco franciscano da época, nave única terminada em capela-mor pouco profunda e estreita seguida pelo espaço da sacristia. Na entrada da nave, repousa o coro com acesso pela parte interna do convento. O convento tinha forma quadrangular, com pequeno claustro descoberto ao centro. Destaca-se por ter sido construído em pedra e cal desde o princípio quando, nos demais conventos, costumava-se fazer primeiro em taipa. Todas as dependências se agrupavam ao redor do claustro: salas de estudo, biblioteca, refeitório, celas (dormitórios individuais) etc. O culto dos franciscanos pela Paixão de Cristo, levou-os a levantar uma imensa cruz – o Cruzeiro – que determinava o tratamento do espaço fronteiro à igreja. Formava-se um adro cercado de muros, local das procissões.
A Capela da Ordem Terceira está localizada na lateral e perpendicularmente à nave da igreja conventual com a qual se comunica através de grande portal, sendo esta disposição comum entre as capelas dos terceiros. Os franciscanos do Convento de Nossa Senhora dos Anjos construíram, em 1740, uma capela dedicada a Nossa Senhora da Guia, no alto do Morro da Guia, com a finalidade de permitir aos frades, o lazer contemplando a natureza. A pintura do teto da capela-mor e a imagem de Santo Antônio, no altar lateral direito, são do século XVII assim como os três altares no fundo da capela-mor e nos lados do arco-cruzeiro, estes têm boa talha com certo gosto maneirista, formando painéis regulares. As imagens nos nichos dos retábulos são do século XVIII. O retábulo do altar-mor revela influência oriental, notadamente no painel central representativo da “árvore da vida”, obra rara de autor desconhecido.
O imóvel foi cedido em 1968 pelo prazo de 50 anos ao então Ministério da Educação e Cultura. Em 15 de dezembro de 1982, após concluir a restauração das ruínas do convento, o IPHAN implanta nas dependências do prédio o Museu de Arte Religiosa e Tradicional e o Escritório Técnico de Cabo Frio. “A adaptação das ruínas para espaço do museu surgiu como medida excepcional, da necessidade de assegurar uma vigilância e assistência efetiva aos remanescentes do primitivo Convento dos Anjos, quando, pelo abandono e incúria em que se encontrava, corria o risco de desaparecer de vez … Cuidou-se então de criar condições mínimas às atividades museológicas propostas, decidindo-se pelo reaproveitamento das últimas paredes do corpo principal, seguido da reconstrução desta fachada interna, da reposição do telhado e reconstituição do copiar de entrada; tudo revertido à vista de documentação iconográfica hábil – mantendo, além do mais, o detalhe do emparedamento dos vãos de janela da fachada principal como lembrete do estado próprio de ruína …” (Edgard Jacinto da Silva, responsável pela restauração do prédio)
Fonte: Iphan.